segunda-feira, 23 de abril de 2012

POEMAS 3X4


Reflexões sobre a pesquisa em “ Poemas 3 X 4”  e sobre o texto de Isabel Setti.
(por MARIA RITA SODRÉ)

A idéia da concepção da montagem veio da necessidade do grupo de explorar o universo dos poemas de maneira mais pessoal e íntima.
“Poemas 3 x 4” surge no momento em que o Grupo de Estudos Permanente começa a buscar a sua própria identidade. Depois se debruçar sobre a literatura não dramática, o grupo decide experimentar a reação da literatura dentro de si, o efeito direto que cada texto produz em cada ator.
O trabalho de encubação da peça consistiu em buscar – em um mundo delimitado da poesia- a reverberação em cada um dos atores e, a partir daí, selecionar e agrupar os poemas e os depoimentos pessoais consequentes.

Foi interessante perceber como a percepção do texto, quando recortada e destacada de forma tão ou mais importante que o próprio poema, é capaz de criar linhas de ligação entre as histórias, fazendo uma espécie de colagem que, finalizada, traz um sentido.
Tal sentido que  pode se dar pela identificação de quem assiste com os sentimentos colocados, pela identificação do ator com a sua própria percepção do texto e até mesmo pela “coreografia” de palavras ( e de ocupação do espaço) que se cria quando se juntam os poemas e os depoimentos.
O prazer no desenvolvimento  do trabalho não tira, no entanto, alguns obstáculos enfrentados ao se dedicar a esse tipo de criação. Questões como linearidade, sentido concreto, tempo de encenação e espaço; foram  enfrentadas durante todo o processo e ainda estão em pauta. Como “contar uma história’, através unicamente de poemas e depoimentos? Quais são os elementos realmente necessários em cena? De que maneira essas palavras devem ocupar o espaço da encenação?
São interrogações levantadas e ainda em discussão, como peças fundamentais do projeto.
*
Isabel Setti, defende a voz como sendo a reverberação da vontade e não apenas um instrumento do ator em cena. O trabalho de voz, segundo ela, está muito mais ligado ao trabalho do ator como indivíduo em ação, apontando um posicionamento no mundo, do que apenas uma ferramenta a ser cuidada e aprimorada.
A pesquisa desenvolvida pelo GEP, especialmente  no projeto “Poemas 3 x 4” , pode ser conectado à essa linha de pensamento, já que as palavras e a voz são os personagens principais da encenação. A voz não somente como veículo, mas como corpo sonoro, que carrega em si as lembranças, sensações e veracidades de todos os depoimentos e poemas.

“A voz é testemunho do passado tanto quanto indicador do porvir. Ela é a sua história, sua manifestação presente e seu potencial.” (pag.29)

Isabell coloca que, trabalhar a voz, implica em trabalhar sobre uma “herança”, sobre os vínculos que a fala expressa e revela – e é exatamente dessa forma que buscou-se  resgatar em cada ator durante os meses de pesquisa. 
Quando se tem como foco principal as linhas, as palavras, o texto, a qualidade com que esse material deve se apresentar e se desenvolver no palco é fundamental. Não existe trama direta e simples que possa prender o expectador do começo ao fim...o fio condutor são as sensações expostas e provocadas por meio da qualidade da execução da encenação. Assim, a clareza, presença e conexão dos corpos / falas / textos, deve ser impecável. Qualquer deslize compromete, sim, o resultado final. 
É interessante notar a maneira como Isabel se refera à “presença” e à “grandeza” em cena, que é fruto da interação dos  elementos:

“Clareza de objetivos, consciência da estrutura óssea, correspondência entre musculatura externa e interna, disponibilidade das vísceras, exploração das cavidades, alento, fluxos de energia, tônus e foco funcionam como uma orquestra que dilata o campo expressivo do ator, dando realidade à experiência poética. E o corpo da voz age.” (pag. 31)

O foco principal, ao se ater a cada detalhe do corpo e do espaço para se tornar presente em cena; é conseguir criar um campo de ação entre todos os presentes, dentro e fora do palco. O objetivo do “poemas 3 x 4” é exatamente esse, que deve ainda ser alcançado com exatidão, já que a peça depende desse campo de conexão para funcionar. “ O foco migrou daquele que fala para o acontecimento que, fazendo vibrar o espaço, contém e modifica a todos? Então a voz cumpriu o seu papel”.(pag. 31)
            E essa é a nossa busca.

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