sábado, 6 de novembro de 2010

Protocolo Paula Liberatti



Ingressei no Gurpo de Estudo Permanente dAdversydade no mês de Julho. Me interessei pelos exercícios e principalmente, o foco do grupo: estudar a oposição de estados, sempre trabalhando com o concreto e buscando os arquétipos, não os estereótipos!
No segundo dia de trabalho com o grupo, discutimos bastante a questão do arquétipo, sendo que ficou para mim que é a "alma da coisa" não a forma; requer um trabalho de verticalização na pesquisa e para isso deve-se trabalhar uma possibilidade até ela se esgotar, por exemplo, quando nos vêem uma imagem, que traz sensações e provocam coisas dentro, e isso deve fluir até se esgotar. 
Neste dia, meu exercício do “hospício” comecei tímida no chão, como diz o Marco: "blasé". Até que o próprio me deu a dica de usar elementos do flamenco, dança que pratico. E aí o exercício fluiu, porque ficou real, e aos poucos, sem forçar pela mente, foi surgindo uma estória, imagens, música e cores. E tudo isso, também devido ao uso do concreto, porque eu me preenchia e tudo o que fazia era “verdade”, e aí não tinha mais espaço em mim para a timidez, a vergonha, porque não tinha mais espaço para julgamento, pois não pensava mais de fora, e seguia os impulsos que vinham.
E tudo isso me tornou potente e presente. VIVER - LÁ DENTRO - SENTIR - SE DISPOR - VERDADE - HUMANO 
Depoimento que surgiu deste dia:
"Que raiva me deu doce. Vagabunda, mentirosa, num é que me enganô direitinho?
Agora tô aqui, num abandono, sozinha, como sempre num quis. Tão sozinha, só com eu mesmo, que nem o medo num fica mais com eu, não. Só o que restô foi esse chão imenso, duro e frio, mas que me acolheu. Aí que raiva me sobe em mim; que minhas mão tão prontinhas, cheias de vontade de ti mostrar a doloreza que elas sentem em mim. E que veio foi docê. Elas querem é devolvê procê. Isso sim. Essa raiveza que era todinha tua, que ocê se recameleixô toda e me traiu, mentiu pra todo o resto dos outros e me robô minhas coisas, minha casa, meu ómi, e me deixô assim, nessa situação de gente doida. E num é que eu acho que até doida já tô me ficando, mas é de doida de raiva docê. Aí que raiva que eu tenho docê."
Do conto "As margens da Alegria", lendo em casa, anotei:
- deslumbrava;
-queria poder vir ainda mais vívido - as novas tantas coisas - 
-só sons;
-tinha qualquer coisa de calor, poder e flor, um transbordamento;
-o menino riu, com todo o coração;
-o menino repetia em íntimo o nome de cada coisa;
-tudo se amaciava na tristeza;
-o menino não entendia;
-o vagalume;
-era, outra vez em quando, a alegria;
No hospício deste conto, eu trabalhei então:

1-DESLUMBRAMENTO: daí desequilíbrio físico; querer; "olha", "cheiro da mão", "respirar muito para estar"; quero muito e abandono pois já me interesso por outra coisa (criança).
2- OPOSTO: tudo é ruim, não quero estar aqui, nada me interessa - vai pro físico e tem uma raivinha " saí, me solta"/ birra: bato o pé, faço bico. volto a achar algo legal e me CONTAMINO (3).
Do conto "A menina de lá":
Na leitura do texto trabalhamos sempre diferir o narrador das situações narradas.
Depoimento:
 "óia, hoje o céu está bonito e o povo lá feliz. Nóis é que tamo aqui debaixo dele triste. É que morreu Nhinhinha, a filha do cumpadre aqui da frente de casa. Tá todo mundo numa tristeza só; e zangado com Nosso Senhor, porque é marvadeza ter levado uma menina tão novinha e tão boa quanto Nhinhinha, que nunca havia de incomodar ninguém, sempre tão quietinha e bem portada. Uma graceza de menina. Tava sempre sorrindo sem muito rir, só de olho nas bonitezas da vida. Não fazia nunca pergunta, mas parecia em seus olhos que já sabia de tudo dessa vida. Tanto é verdade que ela adivinha das coisas que se iam acontecer. Ninguém afima isso não, pra proteger a menina, mas eu sei, porque sempre olhava la dentrinho dos olhos dela, e um dia ouvi mesmo ela dizer que tava indo lá pro céu visitar os parentes. Mas eu nunca que também disse nada, pois da menina Nhinhinha eu gostava. Eu sei que ela tá bem e vai pro céu alegrar, mas que dá uma peninha, ah, isso dá!"

dia 09 de agosto trabalhamos o conto "Os irmãos Dagobé".
Neste dia tínhamos como estímulo música.
Depoimento:
 "Raiva, não consigo nem me mexer de raiva. Confusão. Me deixou aqui confuso. Toda essa maldade não é minha. Você me ensinou a tê-la. Vazio. Agora o que ficou foi um vazio no peito, em tudo. Não sei mais quem eu sou, como sou. Porque só sabia ser você. Culpa de sentir raiva de você, porque afinal você morreu. Dor da morte de um meu irmão, mas raiva de agora não saber quem sou."
 Deste dia, no hospício o que ficou para mim foi uma mulher seca, com raiva. Mas preciso trabalhar mais os opostos, sair do cotidiano, trazer “outro” corpo.
Antes do hospício fizemos um exercício de ficar de joelhos engatinhando chamando os elementos (AGUÁ – FOGO – TERRA e AR) e depois o pai e a mãe. E depois, olhamos um nos olhos do outro enquanto Marco lia o conto, e daí partimos para o hospício já contaminados do clima do “enterro”. E foi muito proveitoso.
O que ficou bem evidente este dia foi que quando você como “artista” propõe um outro tempo (como num ritual), o outro entra com você neste outro tempo. Diferentemente se você lidar com tudo como se fosse banal, aí ninguém se aproxima. É como nós, como intérpretes conduzimos o nosso ritual.
Ainda no conto dos Irmãos Dagobé, descobri um urro de dor e raiva.
Uma voz para este sentimento e este estado.

Do conto "Nenhum, Nenhuma": 
 Continuei trabalhando a raiva e a secura. O amor com raiva (oposição). E estudando o conto para criar o depoimento pedido (separando narrador e estado/personagem) eu sublinhei:
 -"você ainda não sabe sofrer"
-"como vivi e mudei, o passado mudou também. Se eu conseguir retomá-lo"
-"e para que saber por que temos de morrer?"
-"como se não fosse ninguém, ou se todos uma pessoa só; uma só vida fosse"
"contra tudo o que sentisse o acompanhou"
-irmãs solteironas: é como a situação do moço, que foi rejeitado por medo do amor do outro, por não confiar.
-tenho concreto: atordoada, desesperada, falava ríspida, agarrava-se, andava em tropeço, apalpando como cego, escreveu um bilhete e guardou, torna-se viajor, confuso, chora
-"será que posso viver sem dele me esquecer, até a grande hora?"
 Daí achei que: sou cigana, andarilha (trouxe o sempre caminhar): dureza, abdomen sempre contraído, movimentos secos, repentinos/ estou confusa, com raiva, meu amor não casou-se comigo porque tinha medo do amor, medo de amar, e do amor acabar.

Depoimento:
 "Foi abandonada ao amor. Sozinha. Abandonada ao seu enorme amor. Por medo. Porque seu amado era também medo e covardia.
- Contra tudo o que sentisse eu caminhei... será que posso viver sem dele me esquecer até a grande hora?"
 Deste conto, no dia 20 de agosto fizemos um hospício e aí cada um apresentou um depoimento. Um elemento que me trouxe muita descoberta foi o vestido de noiva. Juntando com tudo o que havia pesquisado (citado acima) e o vestido, e cantando uma canção de ninar (pedida pelo Marco) "se essa rua fosse minha", eu criei meu depoimento, num clima de abandono, raiva e secura, num corpo em outro ritmo além do cotidiano. 
Mas ainda ficou para eu trabalhar: o corpo: mais energia mais densa, com o corpo mais tranquilo ainda, num andar lento e dentro borbulhando (oposição). a voz: mais tônus vocal, não a voz do cotidiano. E ter mais clareza na opção. Ação.

Do trabalho do dia 23 de agosto:
 Desde que descobri o vestido de noiva, não o larguei mais. Ele tornou parte da minha pesquisa.
Deste dia, anotei que: em cena aceitar quando o vazio vem. Quente dentro, frio fora. Bom o som “AI” que apareceu. Os gestos com os braços querendo alcançar o inalcançável. Este dia criamos uma sintonia no hospício. É SEMPRE DE DENTRO PARA FORA. Tem que sustentar a ação: ter foco, objetivo, concentração. Humanizar sempre. O universo de Guimarães é muito imagético: trazer imagens.

  • VERTICALIZAR. 
Do dia 27 de agosto:
Tivemos deste dia a tarefa de treinar a leitura em casa.
  • FISICALIZAR.
Meu caminho: físico tranquilo, lento, com tônus, sair do cotidiano, físico oposto do dentro (da sensação).
  • NÃO COTIDIANO.
 Do dia 30 de agosto:
 Discutimos em sala, lendo textos que o Marco trouxe: Mito. 
Estado=qualidade de ser Oposição traz uma resistência que me leva para outro estado.
FLUXO: tem que ter uma sustentação interna para fluir.
Dar o tempo de sentir, de ver o espaço/concreto.
Liberdade para usar o tempo necessário para minhas ações se completarem.
Roteiro de minhas ações/gesto.

Do dia 03 de setembro:
 Conto "Sequência":
 "ela se desescondia dele"
"tinha de perder de ganhar?"
Nos exercícios trabalhei a oposição da frente do corpo querer ir e a parte de trás querer ficar (passado - eu - futuro).
O animal foi o calango, mas ficou muito quadrado trazendo a imagem de uma “bonequinha” de caixinha de música. Este caminho não foi proveitoso, será? Voltar a pesquisa do corpo no tempo lento e fluidez sempre.
Mas posso sempre deixar as costas viva, tendo a referência do que trabalhei no meu depoimento: "mesmo contra tudo o que sentisse eu caminhei".
Depoimento de hoje:
 "eu tô indo. eu tô indo. pra lá. lá. onde isso vai dar? Não sei. Mas tô indo. Ah! Tô indo te encontrar, ah, você, tô vendo você! hum... mas não é. Passou como nuvem. Eu tô tão sozinha. Mas eu tô indo. Mesmo querendo ficar."

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